1.16.2009

EZCRITOS DE KAZEIROS

Sobre residência, ocupação, habitação e propriedade de uma casa...
Leonardo da Vinci, num dia de inspiração, escreveu espelhado e de traz pra frente:
"Para estar junto não é preciso estar perto, e sim do lado de dentro."
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Lygia Clark em 1986, de maneira brilhante, disse:
"Hélio (Oiticica) era o lado de fora de uma luva, a ligação com o mundo exterior. Eu, a parte de dentro. Nós dois existimos a partir do momento em que há uma mão que calce a luva."

Dentro e fora é uma relação espacial simples, e ao mesmo tempo complexa. O conceito de Casa (residência, ocupação, habitação e propriedade) atrelado às relações espaciais (incluindo o indecifrável vazio), interpessoais, éticas e estéticas, é algo essencialmente inspirador. Antes de qualquer termo e variação do mesmo, acho que a idéia principal é a de pensar poéticamente o espaço - Cada um nas suas especificidades, colaboração ou justaposição de idéias. Podemos pensar em como lidamos com nossas casas: - alguns nunca sairam da barra da saia dos pais e nem do quarto decorado que recebeu desde que nasceu; outros tiveram a oportunidade viajar, morar fora, mudar de cidade...forasteiros, migrantes, ciganos, andarilhos, nortistas; existem os que entendem o país, a cidade, o bairro como casa - alguns sempre estarão longe de sua terra natal, portanto longe de casa; há aqueles que moram a 20 anos na casa e não sabem o endereço, a cor da fachada, onde ficam as tomadas; uns vivem de aluguel e não tem a permissão ou extímulo (por não serem donos) para mexer nas paredes; as meninas desde cedo aprendem a brincar de casinha enquanto os homens jogam bola e brincam de carrinho. Quando crescidos, haverá uma forma diferente no olhar dos respectivos sexos? Alguns tem pais separados e consequentemente, tem duas casas; outros moram com os avós; uns cresceram em aptos, arranha-céus; enquanto outros nasceram e viveram em casas com quintais com pés de manga, com pés na terra; outros nasceram e cresceram em fazenda. Uns vivem em casas ambulantes, em auto-motores. Alguns se apegam a uma simples estrutura coberta, a um viaduto (por escolha própria ou não).

A natureza gerou os jabutis com casas próprias, a mitologia nos falou do titã Atlas, condenado por Zeus, a sustentar a abóbada celeste nas costas. Alguém inventou a sombrinha e logo nasceu o guarda-chuva. Para os de fora, a Kaza será sempre um fardo; para os de dentro, uma farda - cheia de magia, quando vestida. Para os visitantes pode parecer vazia.

texto de marconi marques

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