1.24.2009





fotos da Regina Mello
foto Tales Bedeschi

Em sua 8ª ocupação, a Kaza Vazia se volta para um casarão inacabado no bairro Comiteco, logo acima da av. Bandeirantes. Em um dos metros quadrados mais caros da cidade, há 12 anos, Sr. Elizeu - profissão de catador -, forma uma família com Dona Cleuza e os pequenos Michael, Jackson e Gabriel. Uma construção "abandonada", onde os moradores vivem sem instalação de água e energia elétrica. Um constraste fortíssimo para quem vem caminhando desde a Praça da Bandeira, e passa pela Copacabana mineira e seus "néctares da serra".
Em meio a visitas do grupo, a casa muda de dono. Para cumprir-se o acordo de todos esses anos, um barraco começa a ser construído para a família que deve deixar o local. De repente, todos são levados para um galpão do proprietário, até que o casebre fique pronto. No ínterim dessas transformações, os integrantes da Kaza se mudam para lá, seguindo as datas do planejamento do grupo. Inicia a Residência Artística.
Traça-se um mapeamento da região a partir do estudo das questões trazidas pelo contexto da casa. Invasões de imóveis, ocupações de terra, desapropriação e especulação imobiliária. Pressão sobre os moradores do aglomerado da Vila Acaba-Mundo; o portentoso Bairro Mangabeiras e o Parque das Mangabeiras que separa as mansões de um outro aglomerado. Áreas dentro de um planejamento estratégico. Um quadro típico das grandes cidades e que, em Belo Horizonte, ganha um ar especial. Uma cidade que antes era limitada pela av. do Contorno, revela um Plano Diretor que nunca "deu certo". Muitas terras tornam-se públicas e são invadidas pela população. Na região do bairro Comiteco não é diferente. Invasões de alta estirpe povoam a serra com imóveis luxuosos em lotes sem quintais.
Ambiente fundado em constrastes bem definidos, a casa ocupada é ponto de convergência de tensões entre o que rege os direitos da propriedade privada. Como se posicionar frente à questão de habitantes "temporários" de uma casa que depois de 12 anos são obrigados a sair? Quem tem direito sobre a casa? O que cada parte deseja verdadeiramente ganhar frente à situação?
A atuação do grupo passa a ser complementada pela convivência com os vigias e os pedreiros contratados. Constrói-se uma nova rede de relações e formam-se novos ambientes. Parcerias da água com os vizinhos; chegada da luz; a visita da chuva. Constróem-se captadores de água de chuva, barra-ventos, uma estrutura de redes, uma cozinha. Limpa-se o lote, derrubam-se muros, limpam-se entulhos. Uma nova casa vai sendo construída pela ação dos coletivos. Um deles, contratado, que veio de Montes Claros e mora no 3º andar. O outro, autônomo, da cidade mesmo, mora no andar de cima e no terraço. Se unem por pontos em comum: se alimentam de uma vida itinerante e são trabalhadores sem carteira assinada.
tales bedeschi

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